No dia 25 de janeiro de 2019, a
barragem de detritos de minérios criada e administrada e sob a responsabilidade
de uma empresa mineradora brasileira, a Vale do Rio Doce, na cidade de
Brumadinho, em Minas Gerais, rompeu.
E foi tão rápido, tão violento
que não houve sequer condições para que mais de 500 pessoas que estavam
trabalhando, almoçando ou em seu lazer numa das pousadas localizadas ali perto ou
até passando pela região, sequer pudessem compreender prontamente o que estava
acontecendo, e muito menos fugir a tempo de salvar as suas vidas.
Os técnicos que possuem expertise
em gerenciamento de risco são unânimes em afirmar que a empresa assumiu todos
os riscos a partir do instante em que não fiscalizou o que tinha que fiscalizar,
quando e da forma profissional que tal problema exigia.
Os vídeos que mostram agora o
alto poder de destruição da barragem rompida, a quantidade de dejetos que
envolveram acres e acres de terra cultivadas, matas, florestas, arrastando
consigo animais, casas, carros, caminhões, trens, e principalmente vidas
humanas numa violência jamais imaginada por quem quer que pudesse pensar na
possibilidade desse desastre acontecer.
Todos supomos que empresas desse
porte tem gerenciamento de risco atualizado, com profissionais competentes e
fiscalizadores de possíveis danos que possam ocorrer.
Mas a experiência tem demonstrado
o contrário. A mesma empresa foi a responsável pelo genocídio de vidas humanas
e animais, pelos danos irrecuperáveis à natureza na região de Mariana, também
em Minas Gerais e agora em Brumadinho.
O prejuízo financeiro que essa
empresa está tendo no Brasil e no exterior é muito pouco, comparável ao crime
cometido por ela. As autoridades do país, o poder judiciário tem que ser rigorosos
e severos na punição e no ressarcimento pelos danos às famílias enlutadas,
muito embora nenhuma indenização tenha o poder de apagar a dor lancinante
dessas famílias.
Notável e comovente o trabalho
dos bombeiros, que diuturnamente buscam os corpos ou os restos mortais das
centenas de pessoas presas na lama. Extraordinário ainda o trabalho dos
profissionais da Polícia Civil, a Defesa Civil, a Polícia Militar e das Forças
Armadas, bem como dos militares israelenses.
Os grupos de voluntários, as ONGs
que cuidam dos animais resgatados, todos formaram uma força humana ao mesmo
tempo profissional, solidária, humanitária.
E nós, que estamos distantes
fisicamente desse drama, mas não estamos distantes com a nossa solidariedade e
sentimento de profundo pesar e respeito a todos os envolvidos, permanecemos em
preces, eu pessoalmente e o CEFE-Centro de ESTUDOS Filosóficos Espíritas.
Tal evento chocou a sensibilidade
de todos, tanto no Brasil quanto no exterior e por outro lado, muitos
questionam o porquê desse drama, sob o ponto de vista espírita.
O que fizeram essas pessoas para
merecerem esse gênero de morte? E os que foram lesados em seus bens, e os
animais envolvidos?
Nenhuma tentativa de explicação
poderá desvendar as razões pelas quais aquelas pessoas estavam ali naquele instante.
Além disso, seria desumano por
parte de quem quer que fosse, localizar essas pessoas em qualquer evento
nefasto da história para tentar justificar o injustificável.
Jamais poderemos mensurar o
comprometimento individual ou coletivo de qualquer pessoa, de qualquer Espírito
diante dos próprios compromissos com as Leis Divinas.
Temos visto pela internet pessoas
do movimento espírita procurando explicar as causas que motivaram os efeitos
dolorosos para a vida dessas pessoas.
O Espiritismo, a Filosofia
Espírita é clara e objetiva. Somos responsáveis pelos próprios atos e ações e
pensamentos, DESDE QUE tenhamos noção das consequências
desses atos, ações e pensamentos.
A culpa permanece na consciência daquele
que agiu sabendo que agia erradamente contra si e contra o seu semelhante. A consciência culpada,
quando cai em si, seja nesta existência ou nas dimensões espirituais, busca
ressarcimento através de compromissos para
com a comunidade ou comunidades de pessoas com as quais se envolveu ou outras pessoas que
necessitem de seu trabalho, dedicação, de sua vida, enfim.
Essa noção das consequências dos
próprios atos e ações, começa a partir da vinda de Jesus entre nós. Anterior a
ele, as comunidades e seus chefes e líderes guerreavam entre si na busca de
terras, fortunas e poder.
Na época não havia conceitos de moral,
que elevasse o ser humano ao respeito pela vida alheia.
Os impérios da antiguidade
transitaram ao longo de centenas de anos nessa situação. Mas nem assim deixaram
de construir e fazer progredir as populações a elas submetidas. Exemplo, o
império Romano, mas também a Magna Grécia, o império persa, o império
babilônico e assírio.
Com o advento da presença de Jesus
de Nazaré no planeta, o ódio e a sede de poder brutal vai cedendo aos poucos, à
medida em que o indivíduo toma ciência e se conscientiza da necessidade do bem
estar comum, que transita através do perdão, da compreensão, do respeito e da
empatia ao seu semelhante, e à natureza que o cerca.
Portanto, essa conscientização é
muito recente. Jamais poderemos culpabilizar civilizações da Antiguidade por atos
e ações que elas acreditavam firmemente serem verdadeiras, pois seria o mesmo
que culpar um indígena antropófago por alimentar-se de carne humana.
Exemplo disso, as civilizações
asteca e maia, sacrificavam pessoas aprisionadas nas guerras tribais, e se
alimentavam de suas carnes e bebiam seus sangue. O significado era que estavam
prestando homenagem ao guerreiro morto e tomando seu sangue, tido como a seiva
da vida entre os antigos.
Isso não era sinônimo de barbárie.
Todos estavam transitando num horizonte
consciencial semi primitivo, portanto.
Após Jesus de Nazaré, com a
difusão do Cristianismo pelos seus apóstolos, por Paulo de Tarso e seus
seguidores, os indivíduos foram mudando aos poucos e harmonizando-se entre si.
Joanna de Ângelis tem uma bela
passagem reflexiva numa de suas mensagens onde prioriza as diferenças entre as
sociedades no antes de no depois da vinda do Cristo.
Portanto, são apenas 2019 anos de
civilização cristã.
Contudo, nesse trajeto milenar, o
ser humano não aderiu plenamente aos ensinamentos do Mestre, que, por acréscimo
de misericórdia em seu infinito amor à humanidade, prometeu enviar o Consolador
para que pudéssemos, almas comprometidas que somos, tomar consciência da
mudança definitiva de nossas atitudes, pensamentos e ações.
A Filosofia Espírita abre
perspectivas de entendimento e consolo; compreensão e aceitação de nossas dores
e aflições. Sabemos que existem causas para o sofrimento humano, mas saber
exatamente quem, como, quando, detalhes, a
ninguém é dado esse poder de desvendar, já que as Leis Divinas nos conferiram a
dádiva do esquecimento das vidas passadas no processo das reencarnações sucessivas.
E muito menos de divulgar
publicamente, pois , conforme eu disse antes, seria de uma crueldade extrema
detalhar débitos que não são nossos, e portanto, merecem toda a nossa discrição
e respeito.
Mesmo nas Terapias de Vidas
Passadas, quando realizadas por profissionais sérios e éticos, a identidade das
pessoas permanece oculta pela ética profissional.
Divulgar publicamente ou
especular sobre as vidas alheias seria,
conforme o filósofo Immanuel Kant afirma, emitir um juízo de valor extemporâneo
e eu diria, irresponsável.
Se os próprios repórteres e
jornalistas afirmaram que suas experiências em Brumadinho foram as mais
dilacerantes de suas vidas, como nos omitir friamente afirmando isto ou aquilo
acerca da vida de pessoas que nem sequer nos foi dado conhecer??
Precisamos entender que ainda
vivemos num mundo de provas e expiações que também agem como propulsoras à
evolução espiritual humana.
Portanto, jamais saberemos se o
drama ocorrido em Brumadinho, ou em Mariana, ou em Santa Maria, ou qualquer
outro drama ocasionado pelo homem, ou pela omissão humana, seria uma prova
solicitada pelas pessoas vitimadas e seus familiares, ou o cumprimento de um
resgate compulsório.
Aqui está a diferença !!
Em todos esses eventos, a
misericórdia divina certamente se fez presente através de missionários
socorristas da Espiritualidade, que assim como os há na vida na Terra, os socorristas
do mundo espiritual sabem como agir com as pessoas vitimadas.
E certamente estão apoiando,
inspirando, ajudando mesmo os socorristas reencarnados.
É de uma imaturidade espiritual imensa
além do desconhecimento da história da humanidade e de como a nossa evolução
espiritual se processa, atribuir à uma pretensa Lei de Talião a
responsabilidade que cabe a nós ressarcir com conhecimento e fé na Leis de
Deus.
Por outro lado, diante da omissão ou da falta de respeito à
vida e à natureza por parte de grupos humanos que ainda transitam numa
atmosfera psíquica primitiva, porque amante do poder e do lucro em detrimento
da Vida em suas infinitas manifestações, desta vez, consciente de seus atos e atitudes,
perguntamos :
De que forma estes “pagarão” os
seus débitos? Não sabemos. Não nos cabe “adivinhar” quando nem como estes
últimos vão ressarcir os seus débitos criados – ou recriados – para com as
comunidades que prejudicaram.
Quando os Espíritos se referem à
Lei de Talião – olho por olho, dente por dente – e que alguns intérpretes
espíritas chamam erroneamente de Ação e Reação, já que A e R é uma lei física e
não moral – os Espíritos usam como exemplo apenas, e não como forma compulsória
no geral para o processo evolutivo humano.
As grandes tragédias provocadas
pelos indivíduos humanos, como as guerras, e a consequente destruição que
provocam, o êxodo de populações inteiras, certamente chamam para si resgates
compulsórios, porém, jamais saberemos onde, como, com quem exatamente isso se
dará.
A questão 10 do Livro dos Espíritos
diz que “falta um sentido” a todos nós para que compreendamos todo o processo da
criação de Deus, e Ele próprio.
Na questão 3, os Espíritos
afirmam que não podemos entender coisas que estão além da nossa inteligência.
Portanto, humildemente devemos
reconhecer, como diria Shakespeare, que há mais coisas além do céu e da Terra
do que sonham as nossas vãs filosofias.
Quanto às vítimas de Brumadinho,
recebam o nosso carinho e afeto, o nosso respeito e admiração pela prova pela
qual passaram.
Estejam certos de que suas
famílias estão amparadas, meus irmãos, confiem em Deus e nos Benfeitores Espirituais
que cercam a todos.
Para
vocês que voltaram para casa, o nosso verdadeiro lar, e a todos, o nosso amor
fraternal, e a mensagem do Espírito Emmanuel :
TUDO PASSA
Todas as coisas, na Terra, passam...
Os dias de dificuldades, passarão...
Passarão também os dias de amargura e solidão...
As dores e as lágrimas passarão.
As frustrações que nos fazem chorar... um dia passarão.
A saudade do ser querido que está longe, passará.
Dias de tristeza... Dias de felicidade...
São lições necessárias que, na Terra, passam,
deixando no espírito imortal
as experiências acumuladas.
Se hoje, para nós, é um desses dias repletos de amargura, paremos um instante.
Elevemos o pensamento ao Alto, e busquemos a voz suave
da Mãe amorosa a nos dizer carinhosamente: isso
também passará...
E guardemos a certeza, pelas próprias
dificuldades
já superadas, que não há mal que dure para
sempre.
O planeta Terra, semelhante a enorme
embarcação, às vezes parece que vai soçobrar
diante das turbulências de gigantescas ondas.
Mas isso também passará,porque Jesus está no
leme dessa Nau, e segue com o olhar sereno
de quem guarda a certeza de que a agitação faz
parte do roteiro evolutivo da humanidade,
e que um dia também passará...
Ele sabe que a Terra chegará a porto seguro,
porque essa é a sua destinação.
Assim, façamos a nossa parte o melhor que pudermos,
sem esmorecimento,
e confiemos em Deus, aproveitando cada segundo, cada minuto que, por certo...
também passarão...
Tudo passa..........exceto DEUS!
Deus é o suficiente!
Chico Xavier - Emmanuel
SONIA THEODORO DA SILVA, Filósofa e espírita.