
Texto Reflexivo
(Sonia Theodoro da Silva)
Continuando com os Objetivos da 3ª. Aula, entendemos que o mito nasceu de uma atitude primária diante das coisas, sem rigor racional e sem crítica pessoal. A reflexão, a meditação ativa e a razão crítica viriam destruir o mundo mítico e elaborar um outro tipo de explicação: a filosófica. (Excertos extraídos da Bibliografia do Curso de Filosofia Espírita do Projeto ESTUDOS FILOSÓFICOS ESPÍRITAS).
Na questão 628 de O Livro dos Espíritos, estes esclarecem a Kardec que muito embora “cada coisa venha a seu tempo”, não há nenhum antigo sistema filosófico, nenhuma tradição, nenhuma religião a negligenciar, porque “todos encerram os germes de grandes verdades.” Com a chave que a Filosofia Espírita nos dá, podemos abrir as portas da análise conceitual com base no conhecimento adquirido; a Filosofia Espírita quebra o senso comum e abre-nos perspectivas amplas e abrangentes, concedendo-nos a oportunidade de interpretar o mundo e suas manifestações dentro da logicidade natural que o caracteriza. Com base na Bibliografia do curso, enfocamos em aula os Horizontes Agrícola e Civilizado, comentados pelo seu criador, John Murphy (The Origins and History of Religions, Manchester University Press, 1949), e ampliado com os conceitos espíritas de J. Herculano Pires: “No Espiritismo, a razão é apresentada como uma função do Espírito, um dos seus instrumentos de ação, e não como o próprio Espírito. O absolutismo da razão não existe, embora a razão se apresente como instrumento indispensável para o esclarecimento espiritual; é necessário considerar que a razão foi a escada de que o homem se serviu, para superar os horizontes anteriores, libertando-se do domínio das forças naturais ou instintivas.” Por outro lado, Claude Lévi-Strauss, estudando o pensamento “selvagem” mostrou que os chamados selvagens não são atrasados nem primitivos, mas operam com o pensamento mítico.
Assim sendo, com suas funções e atribuições, o mito estabelece padrões de representação que simbolizam o contato do ser humano com a realidade que o cerca. E se analisarmos a função do mito hoje, ele não perdeu a sua representatividade, porém não como projeção de religiosidade, muito embora as religiões formais ainda o conservem, mas como metáfora transmissora de mensagens de vários e diversos simbolismos. Joseph Campbell, um dos maiores estudiosos de Mitologia, aclara estas questões, que serviram de base à formação dos arquétipos coletivos de C.G.Jung.
Em workshops com R. Wagner da Joseph Campbell Foundation, tivemos a oportunidade pessoal de conhecer e vivenciar o simbolismo da vida mítica, que, desprovida da hipnose dos condicionamentos, traz à tona de nosso psiquismo as composições que construíram a nossa existência, e que nos torna indivíduos únicos na Criação.
Caem por terra os conceitos consumistas de que somos substituíveis, descartáveis, tanto na vida prática, quanto no coração de todos os que nos cercam.
O mito, que se perpetua hoje nas manifestações das artes em geral, ainda permanece como um poderoso meio de linguagem e comunicação entre diversas culturas e níveis intelectuais da humanidade. E a Filosofia Espírita, sem fechar esta questão, pelo contrário, amplia os conceitos nele propostos, como base de construção de nossa interexistência, a caminho da ‘angelitude’, ou harmonia dos opostos em nossa consciência, preconizada pelos Espíritos Superiores.