“Vós que sois sábios e cheios de alta e profunda ciências
Que concebeis e sabeis
Como, quando e onde tudo se une
... Vós, grandes sábios, dizei-me de que se trata
Descobri vós o que será de mim
Descobri como, quando e onde,
Por que semelhante coisa me ocorreu?”
(citação de Michel
Foucault, em História da Sexualidade)
Para que possamos compreender os fenômenos da vida humana,
Espíritos de superior evolução intelecto-moral estiveram presentes na Falange
do Espírito da Verdade (Jesus de Nazaré) com a finalidade de orientar a
humanidade. Isso é fato.
Por sua vez, os princípios por eles elaborados e que
constituem a síntese do conhecimento: Deus, Espírito e Matéria, trazem de forma
didática (trabalho este desenvolvido por Allan Kardec, pedagogo) os indicativos
necessários para a condução de nosso pensamento em direção ao entendimento do processo
dialético corpo-Espírito, e que envolve, por exemplo, a encarnação.
Encarnação como princípio, reencarnação como processo - em O
Livro dos Espíritos, Livro Segundo, sob o título Mundo Espírita ou dos
Espíritos, capítulo IV- Pluralidade das Existências, questões 200 a 202, os
Espíritos orientadores disseram a Kardec que a definição sexual (feminino-masculino)
depende da constituição orgânica. Os mesmos Espíritos animam corpos de homens e
mulheres, dependendo das provas que eles (Espíritos) tem que sofrer. Acrescenta
Allan Kardec: “Os Espíritos encarnam-se (princípio)
homens ou mulheres, porque não tem sexo (constituição
orgânica). Como devem progredir em tudo, cada sexo, como cada posição
social, oferece-lhes provas e deveres especiais
e novas ocasiões de adquirir experiências. Aquele que fosse sempre homem, saberia apenas o que sabem os homens.”
São meus os destaques em negrito.
Consequentemente, entendemos que as experiências necessárias à
evolução de um Espírito devem ocorrer efetivamente nas duas polaridades,
masculina e feminina, distintas entre si,
e perfeitamente harmônicas em cada uma.
No capítulo IX, Terceiro Livro, Lei de Igualdade, questão
822-a (tradução de José Herculano Pires), os Espíritos acrescentam: “Os sexos
só existem na organização física, pois os Espíritos podem tomar um e outro, não
havendo diferenças entre eles a esse respeito.”
Os Espíritos, portanto, no processo da reencarnação como lei
biológica, reencarnam em corpos biológicos adequados à necessidade evolutiva de
cada ser. Se hoje um indivíduo reencarna numa constituição fisiológica
masculina, ele trará consigo todos os impulsos inerentes à essa característica.
Impulsos esses que trazem carga erótica condizente à perpetuação da espécie, e
que por instinto o faz procurar o seu oposto, o feminino. O mesmo se dá com o
indivíduo que renasce num corpo biológico feminino. O amor entre os seres
humaniza e une as duas polaridades distintas, na troca constante de afeto e
realização mútuas.
Masculino e feminino com características, pendores,
componentes psicológicos diferentes. No livro “Sexo-Problemas e Soluções”, de
Emídio e Marislei Brasileiro encontramos uma definição acerca das diferenças
entre sexualidade masculina e sexualidade feminina concorde com o Espiritismo: “As
múltiplas reencarnações, em diversos corpos de constituição física masculina e
feminina, possibilitam ao Espírito a aquisição de valores apropriados às
diferentes faixas evolutivas de cada planeta e a assimilação, psicossomática
respectiva, determinando o aprimoramento da condição criativa do ser.(...) A sexualidade manifesta-se sob três aspectos
distintos: no da reprodução, no psicológico das vivências de vidas passadas e
no aspecto geral da capacidade espiritual de criar, de produzir e de evoluir,
através de conquistas morais e intelectuais, que se processam nos planos da
vida física e da vida espiritual.”
No Terceiro Livro, de O Livro dos Espíritos, capítulo V, Lei
de Conservação, questões 702 e 703, os Espíritos esclarecem que todos os seres
vivos possuem o instinto de conservação, qualquer que seja o seu grau
de inteligência, e no caso dos seres humanos, ele é racional, Deus deu a esses,
a necessidade de viver, pois “a vida é necessária ao aperfeiçoamento dos seres:
eles o sentem instintivamente, sem disso se aperceberem.”
Ainda no mesmo Terceiro Livro, capítulo X, Lei de Liberdade,
os Espíritos ensinam que (questão 826), desde que haja dois indivíduos
distintos, “há direitos a respeitar e não terão eles, portanto, liberdade
absoluta.” Por outro lado, os indivíduos possuem “a compreensão da lei natural,
mas contrabalançada pelo orgulho e o egoísmo. Sabem o que devem fazer mas não o
fazem, quando transformam os seus princípios numa comédia bem calculada.”
Allan Kardec então pergunta (questão 828-a): “Os princípios (leia-se aqui sistemas, hábitos, costumes,
vivências e não princípios filosóficos) que professaram nesta vida lhes
serão levados em conta na outra? Quanto mais inteligência tenha o homem para compreender um princípio (filosófico), menos escusável será o de
não aplicar a si mesmo. (...)”
Na questão 845, da mesma Lei de Liberdade, os Espíritos
esclarecem que “as predisposições
instintivas que o homem traz ao nascer são as do Espírito antes da reencarnação,
conforme for ele mais ou menos adiantado, elas podem impeli-lo a atos repreensíveis,
no que ele será secundado por Espíritos que simpatizem com essas disposições; mas
não há arrastamento irresistível, quando se tem a vontade de resistir.
Lembrai-vos de que querer é poder (veja-se questão 361)”.
Na questão 361 recomendada por Allan Kardec, temos a seguinte
pergunta e consequente resposta: “De onde vem para o homem as suas qualidades
morais, boas ou más? São as do Espírito que está nele encarnado; quanto mais
puro é esse Espírito, mais o homem é propenso ao bem.”
Os destaques em negrito são de minha autoria.
Voltemos à Lei de Liberdade, questão 846, quando Allan Kardec
questiona os Espíritos sobre se o organismo (físico) não influi nos atos da vida, e se influi se seria a
prejuízo do livre-arbítrio, ao que os Espíritos respondem: “O Espírito é
certamente influenciado pela matéria, que pode entravar as suas manifestações.
(...) mas o corpo não dá faculdades ao Espírito. De resto, é necessário
distinguir neste caso as faculdades morais das faculdades intelectuais. (...)
Aquele que aniquila o seu pensamento para se ocupar apenas da matéria faz-se
semelhante ao bruto, e ainda pior, porque não pensa mais em se premunir contra
o mal. É nisso que ele se torna faltoso, pois assim age pela própria vontade
(Ver item 367 e seguintes, Influência do organismo.)”
As questões citadas certamente poderão ser consultadas, e
devem, na verdade ser estudadas profundamente com isenção de ânimo.
Acrescentamos a questão 851, referente à fatalidade nos
acontecimentos da vida humana, ao que os Espíritos respondem: “A fatalidade não
existe senão para a escolha feita para o Espírito ao encarnar-se (...) ao
escolhê-la, ele traça para si mesmo uma
espécie de destino, que é a própria consequência da posição em que se encontra.
(...) O Espírito, no tocante às provas morais e tentações, conservando o seu
livre-arbítrio, sobre o bem e o mal, é sempre senhor de ceder ou resistir.”
Em o livro A Gênese – Os milagres e as predições segundo o
Espiritismo, em seu capítulo 18, Sinais dos tempos, item 8, o Espírito Arago diz:
“Quando se diz que a humanidade chegou a um período de transformação, e que a
Terra deve se elevar na hierarquia dos mundos, não vede nestas palavras nada de
místico, mas, ao contrário, o cumprimento de uma das grandes leis fatais do
Universo, contra as quais se quebra a má vontade humana.”
No item 14, Kardec acrescenta: “(...) É a um desses períodos
de transformação, ou se quisermos, de crescimento moral, que chegou a
humanidade.”
Em seu item 19, o livro A Gênese destaca: “Unicamente o
progresso moral pode assegurar a felicidade dos homens sobre a Terra pondo um
freio às más paixões; unicamente ele pode fazer reinar entre os homens a concórdia,
a paz e a fraternidade.”
Acrescente-se trecho do item 24: “Pela sua potência
moralizadora, por suas tendências progressivas, pela amplitude de suas vistas,
pela generalidade das questões que abraça, o Espiritismo, mais que qualquer
outra doutrina, está apto a secundar o movimento regenerador; por isso mesmo
são contemporâneos.”
Para se compreender os fenômenos humanos, como o
homossexualismo, o transexualismo, o hermafroditismo, e outros ligados à sexualidade e às manifestações da
libido, há necessidade de se admitir plenamente a encarnação como princípio e a
reencarnação como processo inerente à evolução humana, admitindo, contudo, que
o Ser é dotado de livre-arbítrio, portanto, herdeiro de suas próprias
experiências na matéria.
Para tanto, um rápido vislumbre nas culturas e nos hábitos
das populações da Antiguidade, com destaque Grécia e Roma, desvenda as vivências homo e bissexuais ao longo do tempo
como parte do processo de iniciação de crianças e jovens à idade adulta. Como exemplo,
os espartanos comungavam do leito conjugal com seus companheiros de batalha em
campanhas militares de longo percurso.
A história humana – seja no campo dos hábitos adquiridos ou
até em sacrifícios religiosos – é fonte de vasta pesquisa para o entendimento
dos fenômenos de ordem sexual.
Essa herança permanece em nosso inconsciente individual e
coletivo, necessitando de entendimento para o necessário reajuste.
De forma oposta, o que vemos hoje divulgado e incentivado
pela mídia, que, secundada por políticas de governos interessados no domínio
das massas, a criação de um suposto terceiro gênero, como se fosse possível
alterar fisiologias ao bel-prazer de poderes espúrios e de empresas que
igualmente disputam audiência.
Apoiadas no suposto “preconceito” – que realmente existe,
pois fruto da ausência de políticas educativas, mas que é por elas abordado de
forma distorcida -, incentivam as massas, que buscam freneticamente novidades
no mercado das aparências.
Programas de auditório, com público hipnotizado pelos holofotes
de grandes e poderosas redes de televisão, no afã de aparecerem por segundos
nas telas de TV nacionais e internacionais, aplaudem com entusiasmo todo aquele
que se propõe a “viver, sim - e porque não? - a sua homossexualidade latente”.
Filmes pornográficos travestidos de luxo e prazer, lojas
especializadas em instrumentos para o aumento da libido, no mercado do “tudo vale para a satisfação” momentânea,
efêmera e vazia.
O conhecimento da energia sexual permanece obscuro para a grande
maioria, mantendo o ser humano escravo de seus impulsos, destinados ao desenvolvimento
afetivo e à perpetuação da espécie.
Com este artigo fechamos questão sobre o tema? Evidente que
não. Porém, deixamos claro que o homossexualismo e as demais questões que
envolvam a sexualidade humana devem ser abordados com isenção de ânimos, e sob
o ponto de vista estritamente filosófico-espírita, se quisermos realmente compreender
a amplitude do problema.
Um seminário, uma mesa-redonda ou qualquer abordagem pública desse
tipo deve ser feita de forma multidisciplinar, com profissionais de saúde idôneos
e engajados com o Espiritismo, acrescidos de abordagem histórica, filosófica,
sociológica e ético-moral.
Não compreenderemos os fenômenos humanos se não nos despirmos
de ideias preconcebidas, protecionistas e alienantes.
O homossexualismo é um
hábito humano milenar e portanto, requer de quem analisa e pondera, maturidade
emocional, maturidade existencial, conhecimento e profundo engajamento à causa
espírita como já dissemos.
Sem isso a casa espírita estará sujeita às tempestades
emocionais de quem vive o problema em seu próprio lar e os traz para dentro dos
Centros, sujeito que pode estar às opiniões dissonantes de uma mídia que nada
faz a não ser aproveitar-se do sofrimento humano que não compreende, contudo, oferece
“soluções” compatíveis aos seus próprios interesses imediatistas e mesquinhos.
Ainda em O Livro dos Espíritos, questão 625, os Espíritos nos
oferecem um modelo conducente às nossas atitudes e ações: JESUS, que é a
harmonia das polaridades por excelência.
Manifestou-se pessoalmente encarnando-se, pelos meios naturais,
num corpo fisiológico masculino, porque
patriarcal era o seu tempo. Porém, manifesta o seu imenso Amor pela Humanidade,
consequência natural de um Ser pleno, ao respeitar a mulher, educando-a para o
amor legítimo e respeitoso, e ao respeitar o homem, educando-o para o respeito a si mesmo e à
mulher. Enalteceu os laços familiares, e legou-nos o seu Evangelho de Luz como
norma de conduta, enquanto aguardávamos a vinda do Consolador, que nos
despertaria para a Verdade.
E é justamente em O Evangelho Segundo o Espiritismo que encontramos a
orientação para as nossas vidas: O Homem de Bem.
AUTORIA: Sonia Theodoro da Silva, filósofa.
SUGESTÕES DE ESTUDO E LEITURA:
O LIVRO DOS ESPÍRITOS
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
A GÊNESE – Os milagres e as predições Segundo o Espiritismo
(Todos de Allan Kardec)
SEXO – PROBLEMAS E SOLUÇÕES, Emídio e Marislei Brasileiro
PESQUISA SOBRE O AMOR, José Herculano Pires.