(em reprise...)
Coração do mundo ... pátria do Evangelho ... há quem veja
privilégios nestas palavras... e até uma certa arrogância; muitos julgaram ou
julgam o Brasil a nova terra prometida e, nós, brasileiros, o povo escolhido
que abrigaria os novos tempos. Contudo, o conceito de pátria do Evangelho é bem
mais abrangente: na verdade estamos todos unidos, por afinidade, desde o
passado remoto até o presente contundente: trânsfugas morais, adeptos de
posturas equivocadas; desde todos os tempos, de todos os recantos da Terra, de
todas as crenças e filosofias, de todas as posições sociais, de todas as
sociedades e culturas, em um só e imenso lugar, onde tivéssemos as condições
propícias para mudar...
Brasil... de costas imensas, de largas e extensas praias, de
selvas verdes e matas densas, de mares
verdes e de aves multi coloridas, de felinos belos e serenos; do boto que se
confunde com o rapaz bonito da lenda criança; da pantera, da onça, do tucano e
do papagaio; do mico leão dourado e das borboletas azuis... do cãozinho amigo e
do gato ladino; das árvores que encantam, que ensombram, que fazem a chuva
chover... das noites enluaradas e das estrelas sem fim... do calor que assusta
e do frio que faz sofrer...
Visto do alto, o meu Brasil se confunde com outras terras e
outros mares tão azuis e tão extensos que minha vista mal alcança...o meu
Brasil de terras imensas, de águas ocultas, de rios largos e imensos, de peixes
tão grandes quanto pequenos. Visto do alto, meu Brasil me comove - quem é você,
Brasil? De quais lugares você veio e onde você está? Quem te construiu, quem
sustenta as tuas fronteiras?
Do alto do mais alto pico do Brasil eu poderia estender meus
braços e abraçar o meu país, e torná-lo pequeno, e afagá-lo como a uma criança,
como a um filho querido que geme e se contorce em suas dores, dores tão grandes
que saem às ruas, que se revolta, que chora e se espreme em veículos que o
conduzem à busca do trabalho distante, ou do divertimento imposto e bancado
pelos novos colonizadores e catequizadores de ideias.
Quem é você, meu Brasil, personificado em milhões de olhares
úmidos de pranto por seus filhos perdidos pela bala “perdida”... quem é você,
meu Brasil querido, personificado em milhares de crianças e jovens que, na
escola, mal sabem ler e escrever uns, ou que se perdem nos desequilíbrios da
busca desenfreada do prazer que, logo trazendo o vazio, sai e sai novamente sem rumo, sem
destino...quem é você, meu Brasil, cujo olhar suplicante busca nos altares
frios e distantes a resposta para o seu desencanto...
Quem é você, meu Brasil de milhões de esperanças e de outro
tanto de almas enfermas da alma; quem é você meu Brasil que busca num simples
jogo de bola a alegria distante...
Porque, meu Brasil, tantos te tratam assim? Porque de tuas
matas mortas, de teus animais em extinção, de tua água que seca, tamanha a
poluição... E eu afago o meu país pequeno em meus grandes braços, e tal como o
profeta, levanto o meu país à vista d’Aquele que o criou, à vista daquele que é
maior do que eu mesma, do que todos, e que esteve entre nós nos ensinando a
caminhar, e o entrego nos Seus braços, e
peço, e oro, pelo meu Brasil, para que possa andar com suas pernas vacilantes,
que possa sorrir de vera alegria, que possa ver em torno de si a grande
promessa de paz, que possa abraçar e ser abraçado, amar e ser amado, sem medo,
sem raiva, porque crescido, adulto, educado, maduro e irmão.
Que o meu Brasil possa sair de madrugada, e seguir para o seu
trabalho compensador, e encontrar a rota certa, a segurança, a realização.
Que o meu Brasil não dependa de quem quer que seja para
alimentar-se, cuidar-se, ter seus filhos, comprar sua casa – porque tudo, tudo
que fizer e realizar e respeitar reverterá a seu favor.
Que o meu Brasil respeite mares e lagos, rios e matas,
animais e humanos, pois tudo faz parte do mesmo ciclo de vida, porque sabe que
se assim não fizer, simplesmente morrerá.
Que o meu Brasil tenha seus representantes legítimos porque
eleitos pela Verdade e pela Verdade trabalharão.
Que o meu Brasil apague de sua lembrança os maus governantes,
os manipuladores, os corruptos e corruptores, os roubadores, os criminosos, os
mentirosos e hipócritas, os que deturpam a paz e lesam os bens públicos; e que
este momento não passe de aprendizado – longo, doloroso e definitivo
aprendizado - em busca da honestidade, dos valores e virtudes humanas que a
sustentam e à Vida.
Que o meu Brasil reconstruído pelo trabalho, pelos estudos,
pela capacidade que tem de sentir empatia, afaste de si o egoísmo feroz e o
individualismo doentio, que empobrece as suas capacidades, que o torna menor,
que o submete à manipulação, e bloqueia o seu imenso potencial de realização.
Que o meu Brasil reconstruído pelo Amor, a ele finalmente dê
guarida, abrindo os seus braços para os filhos das guerras distantes, das
tragédias que ferem, dos dramas ocultos, das perseguições inumanas e cruéis.
Que o meu Brasil gigante acredite em si mesmo, mas seja tão
humilde quanto a sua imensa capacidade de compreender.
Que o meu Brasil querido seja o coração que ama e a terra do
Amor, que, renascido um dia, partiu mas nunca nos deixou.
Brasil: ergue-te, realiza, trabalha, acredita, ama, suba aos
montes mais altos, eleva-te em espírito e de lá, visualiza o imenso caminho que
te cabe; ele está perto de ti, bem perto, tão visível quanto as estrelas, tão
fresco quanto as ondas do mar, tão vivo quanto as árvores, silentes, belas e partícipes da vida – sai em
busca das tuas bem-aventuranças, segue a
Luz que te criou, encontra-te contigo mesmo, e com todos os que te cercam.
Meu Brasil jamais se submete, jamais se escraviza, a nada e a
ninguém, a nenhuma circunstância. E o meu Brasil refeito e reconstruído,
espiritualizado e trabalhador, finalmente estará pronto para abrigar a Paz – e
de seu imenso coração emanarão os mais sublimes sentimentos que abraçarão a
Terra inteira, os nossos irmãos.
Sonia Theodoro da Silva
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